1 de jun. de 2012

"Vem, que eu quero te mostrar o papel cheio de rosas nas paredes do meu novo quarto, no ultimo andar, de onde se pode ver pela pequena janela a torre de uma igreja. Querto te conduzir pela mão pelas escadas dos quatro andares com uma vela roxa iluminando o caminho para te mostrar as plumas roubadas no vaso de ceramica, até abrir a janela para que entre o vento frio e sempre um pouco sujo desta cidade. Vem, para subirmos no telhado e, lá do alto, nosso olhar consiga ultrapassar a torre da igeja para encontrar os horizontes que nunca se veem, nesta cidade onde estamos presos e livres, soltos e amarrados. Quero controlar nervoso o relógio, mil vezes por minutos, antes de ouvir o ranger dos teus sapatos amarelos sobre a madeira dos degraus e então levantar brusco para abrir a porta, construindo no rosto um ar natural e vagamente ocupado, como se tivesse sido interrompido em meio a qualquer coisa não muito importante, mas que você me sentisse um pouco distante e tivesse pressa em me chamar outra vez para perto de você, para baixo ou para cima, não sei e então você ensaiasse em gesto feito um toque para chegar mais perto, apenas para chegar mais perto, um pouco mais perto de mim. Então quero que você venha deitar comigo no meu quarto novo, para ver minha paisagem além de janela, que agora é outra, quero inaugurar meu novo estar-dentro-de-mim ao teu lado, aqui, sob este teto curvo e quebrado, entre estas paredes cobertas de guirlandas de rosas desbotadas. Vem para que eu possa ascender incenso do Nepel, velas da Suécia na beirada da janela, fechar charas de haxixe marroquino, abrir armários, mostrar fotografias, contar dos meus muitos ou poucos passados, futuros possiveis ou impossiveis, dos meus muitos ou poucos eus. Vem para que eu possa recuperar sorrisos, pintar teu olho escuro com kol, salpicar tua cara com purpurina dourada, rezar, gritar, cantar, fazer qualquer coisa, desde que você venha, para que meu coração não permaneça esse poço frio sem luta refletida. Porque nada mais sou além de chamar você agora, porque tenho medo e estou sozinho, porque não, porque sim, vem e me leva outra vez para aquele país distante onde as coisas eram tão reais e um pouco assustadoras dentro de sua ameaça constante, mas onde existe um verde imaginado, encantador, perdido. Vem, então, e me leva de volta para o lado de lá do aceano de onde viemos os dois."

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Quem já não se perguntou: sou um monstro ou isto é ser uma pessoa?

Uma vida com saudade

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